Uma pesquisa realizada por estudiosos do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado no Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identificou a existência de cafeína e atrazina (uma espécie de agrotóxico) nas amostras analisadas nos reservatórios de João Pessoa.
Os resultados obtidos pelo estudo demonstram que os mananciais estão contaminados por esgoto e que as estações de tratamento, por sua vez, não estão dando conta de remover esses e outros compostos da água que chega às torneiras das casas.
O estudo foi realizado também em outras 15 capitais, onde foram encontradas outras substâncias, como a fenolflaleína (laxante) e triclosan (substância presente em produtos de higiene pessoal).
O caso veio à tona no final de junho deste ano, através de reportagem publicada pelo Correio da Paraíba. Na época, o presidente da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Deusdete Queiroga, foi a público e garantiu que a empresa segue à risca o determinado pelo Ministério da Saúde.
O problema, apontado pelo professor Wilson de Figueiredo Jardim, coordenador da pesquisa, é que esses materiais não constam nas portarias do Ministério, por isso não são monitoradas. “Isso é a prova inequívoca de que estamos praticando o reuso de água há muito tempo”, destacou.
Boqueirão
O chefe do Departamento de Educação Profissional do Senar-PB, Carlos Alberto Patrício da Silva, lembra que em áreas como Boqueirão, inclusive, já houve problemas seriíssimos com agrotóxicos, tanto que algumas áreas tiveram de ser destruídas, tendo em vista os níveis alarmantes. “Eram plantios de pimentão. Quando isso foi identificado da primeira vez, ele foi orientado a não mais usar, mas continuou fazendo. Então, o poder público teve de ir lá com a polícia, junto com a ordem de um juiz, para destruir o plantio”, explicou.
Na Grande João Pessoa, alerta Carlos Alberto Patrício, já existem informações de que, como os canaviais contornam a barragem de Mamuaba – que abastece João Pessoa –, as águas já estão contaminadas por herbicidas. “Mamuaba é um caso à parte, porque as agroindústrias são muito responsáveis e têm profissionais adequados. O problema mesmo é o tamanho do plantio. Com tantos agrotóxicos, acabam indo para o lençol freático”, revela.
Risco em plantações às margens de açude
Campina Grande- Os agrotóxicos continuam sendo utilizados nas plantações próximas ao Açude de Boqueirão, no Agreste paraibano. Os agricultores utilizam os produtos em lavouras a 50 metros das margens do manancial. A utilização dos produtos na área contribui para a contaminação da água do açude, que abastece Campina Grande e mais 20 municípios. Aproximadamente 180 produtores agrícolas cultivam hortaliças e frutos, no entorno do manancial, que são comercializados em grandes centros do Nordeste como Campina Grande, João Pessoa Recife e Natal. Nesta época do ano, o tipo de agrotóxico mais utilizado pelos irrigantes são os inseticidas, segundo o presidente da Associação dos Irrigantes do Açude Epitácio Pessoa, o engenheiro agrônomo Kristeny Leite Chaves.
O agricultor José Hernandes da Silva, 52, tem uma plantação de tomate a cerca de 60 metros do açude e usa inseticidas. “Eu aplico um pulverizante para acabar com as pragas que afetam a minha lavoura, mas tudo de forma regularizada com receituário”, contou o produtor. O lavrador, João Pereira da Costa, 45, também utiliza veneno no combate às pragas da plantação de alface, a cerca de 50 metros das margens do manancial.
De acordo com o coordenador estadual do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), Solon Alves Diniz, não há como ter um controle total, nas plantações existentes nos mananciais do Estado. “É proibido o uso de agrotóxicos em plantação de vazantes, porém não é possível o controle total nas 42 barragens da Paraíba”, afirmou.
Conforme Solon, o caso de maior risco é o do Açude de Boqueirão. “Há plantações presentes e controladas nas barragens de Coremas, Engenheiro Ávidos, Jatobá, mas as de Boqueirão são as que apresentam maior uso de agrotóxicos, e acaba ocasionando a contaminação da água. Por isso a fiscalização lá vem sendo mais rigorosa”, disse.
Apesar do Novo Código Florestal permitir o plantio a partir de 30 metros, a reportagem constatou várias plantações de feijão às margens do Boqueirão.
Fonte: Portal Correio