"Brian está no paraíso."
Com essa mensagem, recebida em seu celular, Bruna soube que seu irmão, o militante belga Brian de Mulder, havia sido morto na Síria.
Brian é filho da brasileira Ozana Rodrigues. Nas fileiras do Estado Islâmico, foi conhecido como Abu Qassem Brazili ("Abu Qassem Brasileiro", em árabe).
Caso a informação seja confirmada, ele terá morrido aos 22 anos.
Há casos de outros extremistas que foram considerados mortos e que, tempos depois, reapareceram.
A tática ajuda, por exemplo, a camuflar suas movimentações. Mas Bruna diz ter recebido uma fotografia de seu irmão "sem cor e com os lábios roxos". "Não tenho dúvida." Já a mãe falou que de fato recebeu a informação, mas que a falta de confirmação por algum governo torna mais difícil aceitar a perda. "É difícil acreditar. Não enterrei ele."
Nascida no Rio e hoje moradora da Antuérpia, ela diz que com o tempo aprendeu a lidar com a inevitabilidade da morte do filho no conflito sírio, que se arrasta desde 2011. "É melhor que ele tenha morrido do que saber que está envolvido no ataque em Paris." Agora, Ozana diz se preocupar com a neta, que vive na Síria. "Tenho medo de que aconteça alguma coisa com essa criança. Estão atacando a Síria, quem estiver vivo vai morrer. Sempre sonhei com um filho do Brian."
WHATSAPP
A mensagem anunciando a morte de Brian foi enviada a Bruna por Sara, mulher com quem ele se casou na Síria. A história foi reforçada também por Guy Van Vlierden, um jornalista local especializado na cobertura da radicalização de belgas. Sara parecia feliz, via Whatsapp, e afirmava que Brian –com quem se casou no início de 2014– havia morrido como mártir. O militante foi, segundo informações preliminares, ferido em local próximo a Deir Ezzor, na Síria, no início de outubro. A mensagem sobre sua morte foi enviada no fim do mês.
"Não vi nenhum pingo de tristeza nela. Ela também não vê a hora de morrer", diz Bruna. "Bloqueei o contato. Não consigo entender como ela pode estar feliz com uma coisa que é tão dolorosa."
FUTEBOL
Brian de Mulder viajou à Síria no início de 2013, deixando para trás a família. A história de sua radicalização, segundo relatos, tem como episódio central o futebol.
Ao ser dispensado do time local, onde praticava, o jovem passou por uma espiral de depressão. Convencido por amigos marroquinos, passou a frequentar a mesquita e converteuse ao islã. A radicalização de Brian está ligada a uma das principais figuras do terrorismo belga, Fouad Belkacem.
Belkacem era líder da organização radical Sharia à Bélgica e convenceu o filho de Rodrigues a adotar uma linha conservadora da religião. A mãe em diversas ocasiões pediu a ajuda do governo belga para buscar seu filho. Ela pediu também ajuda à presidente Dilma Rousseff, apesar de Brian não ter a nacionalidade brasileira.
Ausente de seu próprio julgamento, Brian foi condenado em fevereiro pela Justiça belga a cinco anos de prisão. Também foram condenados, com penas variadas, outros membros da organização Sharia à Bélgica, incluindo o líder Belkacem.
Desde que seu filho viajou à Síria, a mãe brasileira tem sido uma forte crítica do governo belga, a quem acusa de não ter feito o suficiente.
"Ninguém quis enxergar a realidade", sobre o que entende como descaso da polícia local diante de suas acusações contra movimentos radicais. "Sou brasileira semianalfabeta e sei mais do que eles."
Fonte: Folha de São Paulo