Parecem nítidos os movimentos da administração Luciano Cartaxo com o objetivo de criar um clima de favoritismo na eleição do próximo ano.
Durante a semana passada, Cartaxo e seus assessores mais próximos concederam entrevistas numa ação claramente articulada e sincronizada. O prefeito, com ênfase na administração pessoense; Adalberto Fulgêncio, enfocando assuntos políticos, com foco nas relações com o PSB.
O que surpreendeu mesmo foi a ausência de um discurso que começasse a ensaiar a confrontação com o PSB, cuja intenção de lançar candidatura própria no próximo ano não parece ser mais segredo para ninguém.
Tanto o prefeito como Adalberto preferiram continuar alimentando a expectativa de que a aliança entre PT e PSB será mantida. E na trilha dessa ilusão, não se sabe exatamente com base em quê, até mesmo uma chapa com a deputada Estela Bezerra como candidata a vice foi lançada.
Parece que as movimentações iniciadas na semana passada, e que se encerraram com a divulgação de uma pesquisa francamente favorável à administração municipal, entretanto, não apenas deixaram de surtir o efeito desejado de interromper o curso do PSB rumo a assumir abertamente uma postura de oposição, como pare tê-lo acelerado.
Tanto que na última segunda-feira à noite já estava a postos para uma longa entrevista ao programa de TV Conexão Master nada mais nada menos que aquele que é tido como o provável candidato a prefeito pelo PSB, o secretário João Azevedo.
Ontem (quarta), foi a vez de outro secretário, Luís Torres, da Comunicação, aumentar o tom e disparar críticas à gestão de Luciano Cartaxo, bem como estabelecer uma outra perspectiva que certamente desagradou muito Luciano Cartaxo, qual seja, a de que em 2016 haverá “outra pauta” no debate eleitoral. Precisa desenhar?
Tanto que o vereador antiricardista, Bira Pereira, foi escalado por Cartaxo para uma resposta e fez circular imediatamente uma nota em que procura desqualificar Torres, afirmando que o “porta-voz” de RC estaria “com dor de cotovelo” em razão da torrente de obras que a prefeitura toca em João Pessoa, e que resultou nos 70% de aprovação obtidos em pesquisa publicada no último domingo.
Uma pesquisa pouco convincente
Na pesquisa realizada pelo IP4 – que também fez pesquisas para governador, em 2014, aqui na Paraíba – e divulgada pelo Correio da Paraíba no último domingo, a administração do prefeito Luciano Cartaxo é aprovada por 70,3% dos pessoenses, enquanto 21,5% desaprovam.
Além disso, a pesquisa quis saber sobre o conhecimento dos eleitores a respeito das obras em execução pela prefeitura (Lagoa, creches, programa habitacional, UPAs, investimentos em mobilidade urbana, e até a “calçadinha da Orla”).
Nenhuma menção negativa a respeito do trabalho desenvolvido pela prefeitura pessoense dessa pesquisa eu tomei conhecimento. Se existe um paraíso na terra, ele foi criado pelo IP4.
Acho que a turma de Cartaxo exagerou na dose, porque os números são realmente exagerados, especialmente porque há muito ainda por fazer.
Há não ser que Cartaxo pretenda ter números de aprovação semelhantes ao que Lula ou Eduardo Campos conquistaram próximos dos 80%, isso no fim do segundo mandato.
Sendo assim, Cartaxo terá pouca margem de crescimento lá para meados de 2016, quando serão mais decisivos esses números.
Os problemas da pesquisa começam com uma metodologia um tanto, digamos assim, “heterodoxa”. Ao invés dos tradicionais “ótimo, bom, regular positivo, regular negativo, ruim e péssimo”, a pesquisa confrontou o eleitor/a apenas com um “aprova” ou “desaprova.
Isso, claro, depois de perguntar a ele/a respeito das principais obras da prefeitura. Depois de ser lembrado dessa lista, que acaba funcionando como uma clara indução à resposta da pergunta que mais importa: e aí, aprova ou desaprova?
O entrevistado não teve nem a opção de pensar: isso está bem, mas aquilo nem tanto; a Orla está bem, mas os postos de saúde precisam melhorar; as creches parecem uma boa iniciativa, mas o trânsito está um horror.
Parece mesmo que o recurso ao “aprova x desaprova” pretende mesmo é esconder dificuldades num momento-chave para as definições de candidaturas em 2016, especialmente do PSB.
No meio desses 70% de aprovação, quantos são mesmo os que acham a administração ótima ou boa?
Se chegar a 50% nesses itens – eu acho que nem isso, porque 44,5% é o número a que chegou um outro instituto, que não é ligado ao PSB, mas a um “possível” aliado – a situação é dramática para Luciano Cartaxo.
Estamos a um ano do início da campanha, e três anos já é tempo suficiente para mostrar resultado, especialmente para uma administração de "continuidade".
Sejamos concretos: se Cartaxo ostentasse mesmo esses números tão expressivos ele estaria nessa posição que é de quase paralisia diante do acirramento das críticas do PSB?
É pouco provável, mesmo considerando o estilo pouco afeito aos confrontos do prefeito petista, o que não vem a ser um estilo adequando para esses dias de acirramento nacional que vivemos.
Mais ainda num quadro que tende a evoluir cada vez mais para um provável enfrentamento com um candidato apoiado pelo governador Ricardo Coutinho, no próximo ano, que ensejará uma disputa que tende ser acirradíssima e, portanto, imprevisível.
Diferentemente de 2012, como eu já registrei antes, RC chegará a 2016 com um grande portfólio de obras e ações do governo do estado na Capital, que será acrescido ao trabalho como prefeito.
Tudo isso impulsionado por uma máquina política e administrativa cada vez mais azeitada. E com um discurso com uma clareza que não deixa margem para titubeios, como já conhecemos do estilo de Ricardo Coutinho.
As palavras que escutei ontem de um socialista não dizer tudo, mas dizem muita coisa: “O problema da administração de Cartaxo não é apenas político. É principalmente administrativo: pouca coisa funciona, e o que funciona não foi ele que fez.”
No campo de Cartaxo reina a confusão, tanto administrativa quanto política. Há tempo para superá-las, mas esse tempo é cada vez menor.
Fonte: Flávio Vieira