24 de set. de 2013

Previsão de aumento do nível do mar piora.

A julgar pela versão preliminar do quinto relatório do IPCC (painel do clima da ONU), a ser divulgado na próxima sexta-feira, a principal atualização nas projeções da mudança climática não serão relacionadas ao aumento de temperatura, mas sim do nível do mar.

Quando o quarto relatório, que projetava um aumento de 18 cm a 59 cm, saiu em 2007, muitos cientistas o consideraram conservador. O esboço do novo texto fala agora de uma margem entre 28 cm e 89 cm de aumento até 2100.

Uma mudança da escala de dezenas de centímetros na projeção não é pequena. A margem de erro para o cenário mais pessimista chega a quase um metro de altura, o que afetaria áreas habitadas por algumas dezenas de milhares de pessoas.


O principal fenômeno por trás do aumento do nível do mar é o fato de que a água aumenta de volume quando está mais quente --e os oceanos absorvem boa parte do calor aprisionado na atmosfera.

"A expansão termal é a maior contribuição para o aumento futuro do nível do mar, sendo responsável por 30% a 55% do total, com a segunda maior contribuição vindo das geleiras", afirma a versão preliminar do sumário político do documento.

"Há alta confiabilidade em que o aumento do derretimento da superfície da Groenlândia vai exceder a elevação da queda de neve, levando à contribuição positiva [aumentando o nível do mar]."

INCERTEZAS

Se o novo relatório do IPCC será mais contundente ao dizer que o impacto do aquecimento sobre o nível do mar será maior, ele ainda tem limitações quando tenta especificar quão maior.

Um dos problemas por trás das projeções do painel do clima é que o balanço do derretimento e da formação de gelo na Antártida ainda é difícil de prever.

Apesar de a maioria das observações e dos modelos de computador alertar para o derretimento da parte ocidental do continente gelado, o aumento de precipitação na Antártida oriental deixa o cenário incerto.

"Há uma cofiabilidade média de que nevascas na Antártida vão aumentar, enquanto o derretimento de superfície continuará pequeno, resultando numa contribuição negativa [de redução do nível do mar]", diz o texto.

Um avanço do novo relatório é a tentativa de lidar melhor com as incertezas regionais. Por exemplo, apesar de a Groenlândia ter a massa de gelo terrestre que mais vai contribuir para a elevação do mar, lá ele não deve subir.

Como a massa de gelo da região vai diminuir, ela perde força de gravidade que puxa água na direção da costa. E o mesmo deve ocorrer com a Península Antártica.

"O efeito gravitacional do derretimento da Antártida, combinado com o efeito da dinâmica de correntes e a temperatura abaixo da média, deve deixar o nível do mar abaixo da média na ponta da América do Sul", diz Aimée Slangen, da Universidade de Utrecht, na Holanda.

"Indo para o Equador, o efeito gravitacional se reverte, deixando o nível do mar acima da média."

Slangen publicou no ano passado um estudo sobre diferenças regionais na subida da linha d'água, mas diz que ainda é difícil fazer um mapa preciso. "Precisamos entender o papel das plataformas de gelo, das geleiras, o efeito térmico e saber como a crosta vai se mover", diz.

O último esboço do relatório afirma que, em 95% das áreas oceânicas do mundo, o nível do mar vai subir, e que 70% das áreas costeiras terão um aumento com desvio de menos de 20% da média.

Para os cientistas, porém, é preciso aprimorar o mapeamento. "Para uma cidade ou um país, a média mundial não importa, é preciso saber o que está acontecendo logo à porta de casa", diz Slangen.

Fonte: Folha de São Paulo