30 de out. de 2012

Relatório aponta colapso em portos, rodovias e ferrovias do Nordeste.


Um mapeamento completo da região Nordeste foi feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para apontar as prioridades e os investimentos necessários para a modernização, recuperação e ampliação de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos. O objetivo é propor soluções para garantir o escoamento da produção industrial e agropecuária nos próximos anos. De acordo com o relatório “Nordeste Competitivo”, muitos são os problemas e os desafios que precisam ser enfrentados pelos governos dos noves estados.

Na Bahia, a BR-242 escoa a produção de soja do estado.
Entre os problemas mais preocupantes, estão as rodovias da região. A falta de manutenção, o desgaste provocado pelo excesso de cargas transportadas diariamente e os gargalos podem colocar em risco o escoamento da produção até 2020. A rodovia em situação mais crítica é a BR 101 – o trecho mais problemático fica na divisa de Sergipe com Alagoas, na cidade de Propriá, passa por Maceió e vai até o estado de Pernambuco.

O trecho da cidade de Xexéu ao Recife tem capacidade para suportar 51,3 mil toneladas por dia, mas, atualmente, passam pela estrada veículos transportando 68 mil toneladas. Por dia, isso equivale a 32% a mais que a capacidade. Em 2020, a estimativa é que a utilização chegue a 98 mil toneladas por dia – 91% acima do limite.

Outro gargalo rodoviário é o trecho da BR-324, na Bahia, entre Feira de Santana e Salvador. O principal entroncamento rodoviário do Nordeste movimenta 40 milhões de toneladas de carga por ano. Também na Bahia, a BR-242, que escoa a produção de soja do estado, está em péssimas condições.

A previsão da CNI é de um investimento de R$ 2,03 bilhões para evitar que nove rodovias se tornem intransitáveis nos próximos anos, operando com um excedente de até 151% da capacidade. A confederação diz que é necessário um investimento de R$ 25 bilhões para garantir a circulação e o escoamento da produção dentro do Nordeste, para outras regiões do país e para o exterior.

“O principal mérito desse projeto é identificar os fluxos de produção e comércio da região e, a partir desses fluxos, identificar quais aqueles projetos de infraestrutura que terão maior retorno econômico e social para a região”, contou José Augusto Fernandes, diretor de políticas e estratégia da CNI. Ao todo, o estudo aponta 83 projetos prioritários para resolver os problemas – desse total, apenas 26,5% estão em andamento.

Escoamento

O Nordeste é um grande produtor de açúcar, álcool, adubos e fertilizantes, combustíveis, metais, bebidas, grãos, biscoitos, petroquímicos, frutas e a criação de gado. Segundo o IBGE, o Nordeste responde por 13% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas no país. O estudo da CNI mostra que muito tem que ser feito para escoar a produção em condições ideais e evitar o colapso nos próximos anos.

Complexo Portuário de São Luís, no Maranhão, já opera acima da capacidade limite.
A dificuldade em escoar a produção preocupa empresas e indústrias. Uma fábrica de cerâmica localizada na região de Suape, no Litoral Sul de Pernambuco, é um exemplo do colapso que está se formando. A indústria se instalou ao lado do porto para facilitar o escoamento da produção para os mercados interno e externo. Cerca de 40% da produção são exportados, mas, mesmo estando a menos de 10 km de um dos principais portos do Nordeste, a empresa tem problemas na hora de escoar o produto.

A empresa gera 600 empregos diretos, R$ 300 milhões investimentos e produz 1,2 milhão de metros quadrados de cerâmica por mês. O empresário Marcos Ramos reclama da ineficiência dos portos e do alto preço cobrado. “Os problemas para quem precisa exportar acima de tudo é competitividade, ter custos adequados. A gente onera muito o custo do produto com a ineficiência e dos serviços que preciamos contratar com terceiros, como porto, transporte”, falou.

Trilhos e rios

As ferrovias precisam de R$ 12 bilhões de investimentos. Apesar da construção da Ferrovia Transnordestina, é preciso recuperar trechos antigos de nossos trilhos. Alguns trechos estão em péssimo estado de conservação, como o da Estrada Férrea dos Carajás, que liga São Luís a Açailândia, no Maranhão.

Estrada Férrea dos Carajás, que liga São Luís a Açailândia, no Maranhão.
O estudo também indica a necessidade de investimento de R$ 272 milhões nas hidrovias e na recuperação de rios importantes, como o São Francisco. Hoje, com problemas de assoreamento e necessidade de obras de dragagem, a navegação comercial no Velho Chico não é possível em vários trechos. “O que nos estamos oferecendo são projetos, prioridades para serem examinadas pelo setor público e setor privado. A nossa expectativa e que, com a maior participação das concessões, o setor privado também possa ter um maior envolvimento com esse projeto”, concluiu o diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.

Fonte: G1 Pe