9 de out. de 2016

Aliados, PMDB e PSDB já medem forças para corrida presidencial de 2018.

Embora o Brasil esteja ainda a dois anos de escolher um novo presidente, as forças políticas deram início, desde o último domingo, a um processo de reorganização de suas estratégias de olho na disputa pelo Palácio do Planalto em 2018. Fiel do governo de Michel Temer, o PSDB expandiu seu domínio sobre o eleitorado aproveitando o declínio da esquerda, em especial do PT. Na visão de analistas políticos consultados, o avanço tucano sobre os municípios dá força a uma eventual candidatura do partido à Presidência. Mas é preciso combinar com os peemedebistas.


A partir de janeiro, PMDB e PSDB vão comandar um terço dos municípios do país, o que corresponde a um quarto do eleitorado governado. Para analistas, o domínio rompe a polarização entre PT e PSDB, que marca a política brasileira nas duas últimas décadas. E pode ser ampliado, já que ambos têm candidatos no segundo turno em 33 cidades — em quatro delas, disputam a prefeitura entre si. Juntos, tucanos e peemedebistas podem administrar um orçamento de cerca de R$ 100 bilhões só nas capitais.

De todos os recados que as urnas enviaram no domingo, um deles parece evidente, na opinião de cientistas políticos: uma eventual aliança para a disputa da Presidência formaria a chapa a ser batida pelos demais partidos.

— Um tem base, outro tem lideranças conhecidas. A lógica de uma aliança desses dois partidos pode gerar uma força muito grande — afirma Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp. — O PSDB não tem representação nacional de base que o PMDB tem. Em vez de aproveitar os oito anos do governo Fernando Henrique para ampliar suas bases, o partido passou a depender cada vez mais desse anabolizante que é formar a base aliada no Congresso. Isso tem reflexos até hoje. Nesta eleição, dado o enfraquecimento fantástico do PT, o PSDB recebe um impulso para se expandir. Agora, o problema: terá tempo de fazer bases municipais condizentes para uma concorrência com o PMDB?

PAPEL DE “NOIVA COBIÇADA”

Na visão dos analistas, duas questões centrais vão pautar a corrida presidencial. Uma diz respeito ao comportamento de PSDB e PMDB em relação à atual aliança — se vão chegar a 2018 como aliados ou como adversários. A outra está relacionada ao movimento de reação de outros partidos no cenário político.

Para Magna Inácio, professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, a aliança com o PMDB pode ser mais fértil para os tucanos do que foi para o PT nos governos de Lula e Dilma.

— O PSDB sempre teve dificuldade para ampliar sua base inicial, manteve-se muito tempo concentrado na região Sudeste. O PT tem essa mesma origem, mas se expandiu para Norte e Nordeste. Já o PMDB, embora tenha mostrado dificuldade para manter grandes capitais, continua sendo um partido muito capilarizado. Eleger prefeituras é muito importante para a corrida presidencial, que depende da máquina administrativa. O PMDB, hoje, com certeza é mais importante para o PSDB do que foi para o PT — diz Magna.

Há outros benefícios de uma eventual chapa formada pelos dois partidos. Magna aponta que a união de tucanos e peemedebistas minimizaria riscos para eles em caso de uma forte candidatura proveniente de outras siglas.

— Resta saber se (o PMDB) vai manter o papel de “noiva cobiçada” ou se vai querer montar sua própria chapa. De todo modo, uma aliança com o PSDB seria ideal para enfrentar qualquer concorrente ameaçador à continuidade deste projeto do atual governo.

A aliança, porém, precisaria ganhar vigor nos próximos dois anos. A aproximação entre as siglas durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff também expôs rusgas na relação. Antes mesmo do afastamento definitivo da petista, os tucanos ameaçaram deixar o governo de Michel Temer após divergências sobre o ajuste fiscal.

— O PSDB entrou no governo Temer como aliado natural. Até quando o PMDB era aliado ao PT, era normal em eleições municipais e até estaduais que fizesse uma competição amigável com o PSDB, e não uma competição predatória. Agora, é como dizem: “amigos, amigos, negócios à parte”. Acredito que o objetivo de várias lideranças do PSDB seja conquistar o governo federal em 2018. O PSDB vai querer encabeçar uma chapa, e aceitaria o PMDB como vice — afirma Marcus Ianoni, professor de Ciências Políticas na UFF.

CENÁRIO IMPREVISÍVEL

Até agora, o PSDB conquistou 93 prefeituras a mais que em 2012, entre elas, a cidade de São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Considerado uma vitória nas urnas, o desempenho levou as lideranças tucanas a discutir a corrida à Presidência. O prefeito eleito da capital paulista, João Doria, defendeu a realização de prévias para escolher o candidato do partido. No entanto, as prévias para sua própria candidatura racharam a legenda no estado.

Apontado como aposta do governador Geraldo Alckmin, Doria reforçou o nome do tucano para 2018. O PSDB tem, entretanto, o senador Aécio Neves (MG) e o ministro de Relações Exteriores, José Serra , como eventuais presidenciáveis. A possibilidade de um deles deixar o partido para concorrer ao posto não é descartada. Eles foram os últimos três candidatos do partido ao cargo contra Lula e Dilma.

Já o PMDB ganhou 1.028 prefeituras no primeiro turno, dez a mais do que há quatro anos. O partido cogita encabeçar uma chapa, na avaliação de Nelson Jobim, quadro histórico do partido e ex-ministro dos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma. Falta, porém, um nome de destaque nacional.

— Vejo que a posição do PMDB é de lançar candidato próprio, que não seja o Michel (Temer), porque isso dificultaria a implementação das reformas que ele tenta. Teria que ser um nome novo. Até o Eduardo (Paes, prefeito do Rio), embora tenha sido bom gestor, não teve um resultado razoável na eleição municipal — diz Jobim.

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Além de ambas as siglas terem a expectativa de encabeçar uma chapa à Presidência, a imprevisibilidade do cenário político pode afetar o equilíbrio entre PMDB e PSDB. Os desdobramentos da Operação Lava-Jato e os desafios do governo federal na economia são apontados por Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV-SP.

Para Couto, o crescimento do PSDB nas urnas e a manutenção do PMDB como o partido com mais prefeituras pelo país não garantem um ambiente tranquilo para a convivência mútua.

— É difícil saber para onde vai esse rearranjo. Depende do resultado dos segundo turno, do desempenho que terá o governo federal nos próximos dois anos e da avaliação que ele terá, da reação dos partidos a ele, de questões internas nos próprios partidos e de questões do âmbito geral. A gente sabe que o PT não é o único partido envolvido na Lava-Jato. Isso pode afetar — argumenta Cláudio Couto.

Fonte: Oglobo.com