Em reunião com lideranças do Senado e da Câmara em sua residência oficial, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), foi além do noticiado apelo feito nesta quarta-feira (5) ao Congresso em nome de uma agenda para tirar o país da crise. Demonstrando muita preocupação no encontro, do qual também participaram ministros, Temer também chegou a cogitar “lavar as mãos” caso lideranças da base aliada não acompanhem seus esforços de articulador do governo, em um cenário de ameaças de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
“Não vamos ignorar que a situação é, realmente, grave”, pontuou Temer, após a reunião, referindo-se ao contexto político-econômico.
Mas, por trás da nuance dramática do apelo de Temer, há a figura do experiente político a saber que, em caso de queda de Dilma, caberá a ele comandar o país até que sejam realizadas novas eleições. Na condição de interlocutor frequente dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o vice-presidente sabe que tem satisfações a dar também na condição de presidente nacional do PMDB, partido decidido a levar adiante candidatura própria à sucessão presidencial de 2018, como este site revelou em primeira mão em 24 de junho. Em recente viagem aos Estados Unidos, o cacique peemedebista palestrou para advogados e investidores em Nova York e, em declarações à imprensa, admitiu o desembarque do governo antes do pleito. Em hipótese de impeachment presidencial, Temer também sabe que esse caminho seria encurtado.
“É possível que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos, de fazer este apelo, e estou tomando esta liberdade de fazer este pedido. Caso contrário, podemos entrar em uma crise desagradável para o país”, acrescentou o vice-presidente, que chegou a criticar o governo durante a estada no Estados Unidos.
Apesar de garantir estar decidido a se manter firme na articulação política de Dilma, Temer manifestou desânimo principalmente em relação aos aliados na Câmara, onde Eduardo Cunha, já oficialmente rompido com o Planalto, tem patrocinado seguidas derrotas contra o governo. Além da “pauta-bomba” imposta contra o Planalto, Cunha já articula com a oposição – e até membros rebeldes da base – uma maneira de dar ares de decisão coletiva a iniciativas pelo impedimento presidencial. Uma eventual aprovação, em Plenário, de pedido de impeachment seria insustentável para Temer, avaliam seus interlocutores.
“Ele vai até onde der. Imagina se aprovam tudo no Congresso [contra o governo]? O que vão fazer? Acho que ele deu uma intimidada nos parlamentares da base [na reunião], para ver se a base pensa no país. Se ele não tiver mais o que fazer, ele tem que sair [da articulação], não é?”, confidenciou ao Congresso em Foco um dos homens de confiança de Temer na vice-Presidência. Na avaliação do interlocutor, Temer vai continuar na função de “bombeiro” do governo, mas com limites.
“Os líderes da base aliada não são mais líderes coisa nenhuma. O Temer até tem feito uma boa articulação, mas a coisa não avança no Congresso. Se formos ouvir bem o recado do vice-presidente, veremos que ele quer alertar para o risco de uma crise política incontornável. Ora, já não é uma questão de governo, mas de país!”, acrescentou a fonte, referindo-se ao apelo do peemedebista em favor de uma pauta de unificação do país rumo ao fim da crise político-econômica.
“Boi brabo”
As principais lideranças governistas no Senado reverberaram nesta quarta-feira (5) as preocupações de Temer. As críticas recorrentes são à chamada “pauta-bomba” que Cunha põe em votação na Câmara, com efeitos como o aumento dos gastos em tempos de ajuste fiscal. A primeira derrota do governo neste segundo semestre foi a aprovação, já na madrugada desta quinta-feira (6), da proposta que concede reajuste salarial para servidores da Advocacia-Geral da União (AGU), procuradores estaduais e municipais e delegados das polícias Federal e Civil estaduais. A matéria, que ainda precisa passar por mais um turno de votação antes de seguir ao Senado, representará impacto extra de quase 2,5 bilhões para os cofres públicos, nas contas do governo.
Temer e aliados também estão de olho nas decisões unilaterais com as quais Cunha, nesta fase oposicionista, têm colocado o governo contra a parede. Uma delas aposta na rejeição, por parte do Tribunal de Contas da União (TCU), das contas de Dilma referentes a ano-calendário de 2014. Para abrir caminho para essa análise por parte dos deputados, o peemedebista fez o que jamais havia sido feito na Casa: pautou o exame das contas dos três governos anteriores ao da petista, para que então possa ser apreciado o parecer do TCU. Uma vez confirmada a rejeição das contas pelos parlamentares, estaria aberta a passagem para um processo de cassação de Dilma.
Desde seu rompimento com o governo, feito na véspera do recesso parlamentar (entre 17 de julho e 1º de agosto), Cunha tem ignorado os apelos de Temer em nome da governabilidade e agido de maneira cada vez mais irascível em relação ao Planalto. A justificativa encontrada pelo deputado para a guinada à oposição é o suposto conluio entre Planalto e Procuradoria-Geral da República (PGR) para incriminá-lo na Operação Lava Jato – argumento que, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, também foi usado por Cunha, no início de julho, para convencer Temer que ele mesmo corre o risco de figurar entre os investigados. Cunha nega esse diálogo, como também tem negado as conversas com o PSDB sobre o impeachment.
Um assessor da liderança do governo no Senado confidenciou ao Congresso em Foco que, durante a reunião entre Temer e aliados, o termo “boi brabo” surgiu para conotar a nova postura de Cunha, aquele “que ninguém consegue segurar”. A saída, entenderam os presentes, seria apelar a Renan Calheiros – que, como este site mostrou ontem (quarta, 5), retornou do recesso com postura governista e dizendo que desarmaria a pauta-bomba da Câmara. “Já que o governo não pode contar com Eduardo Cunha, que o Senado faça a sua parte. Ele [Temer] ainda aposta no Senado, e vai querer contar com o capital político de Renan”, relatou.
Fonte: PB Hoje