Quem cultivava nos gabinetes da Prefeitura de João Pessoa a esperança de que a aliança PSB-PT seria mantida, perdeu-as durante o último final de semana, quando o presidente nacional do PSB, o pernambucano Carlos Siqueira, incluiu João Pessoa entre as cidades nas quais os socialistas deverão lançar candidatos no próximo.
Mais expressiva ainda foi o acréscimo de Siqueira: “Essas já são as pré-candidaturas confirmadas”.
A informação contida na entrevista de Siqueira não foi comentada, mas também não foi negada aqui na Paraíba. E como em política, em geral, quem cala consente, o silêncio do governador Ricardo Coutinho parece confirmar o que muitos tinham como certo já algum tempo: o PSB terá mesmo candidato/a em João Pessoa.
E algumas questões parecem já plenamente amadurecidas para que uma decisão como essa se precipite aparentemente antes do tempo. Senão vejamos.
Cartaxo, Cássio e a “disputa nacional”
Luciano Cartaxo permitiu que Ricardo Coutinho liderasse na Paraíba desde que tomou posse do segundo mandato de governador a luta contra os que querem derrubar a presidenta Dilma Rousseff.
Esse movimento da oposição tucana tem na Paraíba um território importante desse embate, já que é paraibana uma das principais lideranças pró-impeachment, Cássio Cunha Lima.
Enquanto RC não perdeu uma oportunidade sequer de confrontar Cássio e o PSDB em razão do que ele chama de “golpe”, afinado com o discurso de Dilma, Lula e das principais lideranças nacionais petistas, Cartaxo mantém um silêncio que certamente constrange petistas e a base social do partido em todo o estado, especialmente em João Pessoa.
Há uma semana, instado a comentar sobre o resultado da última Convenção Nacional do PSDB que decidiu abraçar a proposta de impeachment, Cartaxo fez que não era com ele e deu uma de Conselheiro Acácio: “as críticas fazem parte da disputa política nacional”.
E repetiu o bordão preferido do momento: “Eleição só em 2016”. Tudo pare evitar uma mera crítica a Cássio.
Seria bom que alguém avisasse ao prefeito pessoense que essa não é uma mera disputa “nacional”, e mesmo que fosse ele é uma das figuras “nacionais” do PT, afinal vem a ser o único prefeito petista de uma capital nordestina.
Não é esse modelo de discurso, por exemplo, que adota Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, de longe a cidade que certamente abriga o maior contingente de antipetistas do país. Parece ser só uma questão de convicção, compromisso, consistência política.
E coragem.
Esse embate que se desenrola no país atualmente pode resultar no afastamento do governo de uma presidenta eleita pelo povo e empossada há pouco mais de seis meses.
E numa ação que, caso atinja seu objetivo, submeterá os avanços democráticos e institucionais dos últimos 30 anos aos caprichos de um mau perdedor.
Se isso fosse pouco, essa mudança não se resumiria a uma simples mudança de pessoas no governo, mas que resultaria na adoção pelo país de um outro modelo de desenvolvimento. Além das implicações de ordem geopolítica.
Nesse embate, se o prefeito petista corre o risco de perder a confiança de boa parte da tradicional militância petista. Pior ainda: a base social pode migrar em peso para o PSB de Ricardo Coutinho.
Mesmo experimentados dirigentes, como o presidente estadual do PT, Charliton Machado, está tão desconfortável com os posicionamentos do prefeito petista que resolveu ser ele mesmo o principal porta-voz do partido no embate direto com Cássio Cunha Lima na Paraíba, criando um imenso óbice para essa aproximação.
Charliton está só. Nem a tal “esquerda” petista, que dispõe de cargos na prefeitura, faz ecoar as críticas do presidente petista.
Os ataques de Charliton Machado deram certo porque forçaram Cássio a se posicionar. Mas, mesmo reconhecendo as dificuldades conjunturais para uma aliança com Cartaxo em 2016, deixou em aberto o futuro:
“Não vejo no curto prazo a possibilidade de uma aliança com o PT, apesar do respeito que registro pelo prefeito Luciano Cartaxo. Existe hoje um fosso que nos separa pela conjuntura nacional. É realmente algo muito difícil”.
No “curto prazo” (2016), não. Mas, quem sabe no médio prazo (2018)?
Ricardo vai construir seu candidato
O problema de Cartaxo no curto prazo talvez seja porque ele só mira o médio prazo. Cartaxo quer ser candidato a governador, em 2018.
Para isso, ele precisa não apenas se reeleger, mas deixar alguém de sua estrita confiança na cadeira de prefeito de João Pessoa quando precisar renunciar à PMJP.
Eis uma das razões que levam Cartaxo a transferir tudo para 2016: ele quer medir sua força eleitoral para poder decidir se banca uma chapa puro-sangue ou se, para sobreviver, entrega a vice a outro partido.
É claro que RC percebeu a intenção de Cartaxo e decidiu não esperar pela iniciativa do prefeito pessoense.
Coutinho vai construir o espaço do seu candidato para testar suas próprias chances de vitória, o que deve levar ao rompimento definitivo já que as rusgas, que já começaram, tenderão a se aprofundar, porque o espaço que resta ao PSB é o da oposição.
E com um candidato ricardista na oposição, o pesadelo de Luciano Cartaxo – enfrentar um candidato apoiado por Ricardo Coutinho no governo – deve se realizar.
E não será o Ricardo Coutinho desgastado de 2012 que Cartaxo irá enfrentar, mas um governador que planeja cuidadosamente cada passo que dá no seu segundo governo, especialmente em João Pessoa.
Ou seja, o RC de 2016 terá o portfólio da administração que realizou em João Pessoa e que o credenciou a disputar e a vencer o governo do estado em 2010.
Associado a isso, RC é cada vez mais uma liderança estadualizada, mas que precisa manter-se enraizado na capital, sua principal base eleitoral. Como complemento, uma azeitada máquina política e administrativa para contrapor à poderosa máquina que dispõe Luciano Cartaxo.
E uma aliança estadual, que pode juntar num mesmo palanque o PSB, o PMDB, o PDT, o PCdoB, o PPS, o PRB, o PR, o PTB e o Dem.
Na próxima postagem, tratarei de uma questão pouco lembrada, e que passa por 2016, que se relaciona ao projeto de Ricardo Coutinho em 2018.
Fonte: Flávio Vieira