3 de fev. de 2014

PRESIDENTE DA FUNESC, LAU SIQUEIRA, REAFIRMA A DIRETRIZ DE INTERIORIZAÇÃO DOS INVESTIMENTOS CULTURAIS DA FUNDAÇÃO.

Por Anne Fernandes


Poeta brasileiro, escritor desde a infância, autor de cinco livros de poesia, e atual presidente da Fundação Espaço Cultural da Paraíba José Lins do Rêgo, Lau Siqueira, fala sobre as iniciativas do governo do Estado, por meio da Funesc, para a fomentação da cultura popular, e faz questionamentos acerca do Carnaval Tradição na capital paraibana, com investimento da ordem governamental.

Lau Siqueira, gestor cultural, e acima de tudo, ativista da cultura, defende por muitas vezes em seu discurso, o contato aproximativo entre as instâncias governamentais e a sociedade civil organizada e/ou participativa, enaltecendo o valor da diversidade cultural, acreditando que o melhor caminho é a promoção do planejamento estratégico em consonância com a Secretaria de Cultura e fundações culturais do Estado, atrelado ainda a parcerias com os Estados vizinhos – Pernambuco e Rio Grande do Norte - , esclarecendo em seu posicionamento que a cultura é vivaz e necessária, porém com caminhos muito difíceis e desafiadores. E nessa linha fiel sobre a cultura e suas nuances, Lau nos esclarece pontos muito importantes e anuncia como será a cultura para o âmbito estadual em 2014.

O posicionamento de Lau Siqueira será publicado no Folia de Rua, tabloide
que a Associação Folia de Rua distribuirá com a população pessoense durante a prévia carnavalesca que acontecerá de tanto de 21 de fevereiro a 02 de março.

Folia de Rua: Lau Siqueira, você sendo um gestor cultural, e acima de tudo ativista da cultura, acredita que a sua ida para a presidência da FUNESC contribui para o melhor debate e democratização das ações na cultura estadual?

Lau Siqueira: Temos buscado um modelo participativo de gestão, ouvindo as regiões em rodas de diálogo, em reuniões com instituições, com os colegas da FUNESC, ou mesmo em conversas informais onde vamos traçando um diagnóstico do momento que estamos vivendo e ao mesmo tempo dimensionando os nossos desafios. Em lugar nenhum do mundo é fácil trabalhar com cultura. Mas, precisamos colocar a mão na massa se não as coisas não saem do lugar.  As regiões da Paraíba aprenderam a caminhar dentro das suas dificuldades e produzir coisas lindas. Nosso desafio é articular essas ações culturais para uma atuação dentro do Espaço Cultural e para uma ação de fomento da FUNESC junto às produções regionais.  Pretendo sim dar a minha contribuição, da mesma forma que Lu Maia e os gestores que a antecederam. Acho essa diversidade de olhares sobre a cultura é que nos fará avançar e refletir sobre cada momento.

FR: Quais as ações de imediato estão sendo estruturadas para a fomentação da cultura paraibana e a valorização dos seus artistas?

LS: Começamos nossa gestão em setembro com o orçamento de 2014 já definido e com um enorme caos provocado pelas reformas do Espaço Cultural, Teatro Santa Roza, Teatro Íracles Pires e Cine São José. Um caos imensamente promissor para o futuro das políticas de cultura, pois não se faz uma gemada sem quebrar os ovos. A degradação dos espaços culturais do Estado, fruto de décadas de abandono generalizado, levou o Governo a uma ação corajosa, necessária, mas que aumenta infinitamente o nosso desafio. O investimento em obras para a cultura é altíssimo. Nossa tarefa mais importante no momento é a realização do XIV Festival Nacional de Artes, planejar e fomentar a circulação dos bens culturais. O FENART vai ser o nosso grande termômetro. Vai ser o momento de um passo em direção ao futuro, dimensionando a importância de termos na Paraíba o segundo maior centro cultural do mundo.

O carnaval é uma ação municipalizada e que, apesar de ter uma origem na cultura popular, difundiu-se de forma elitizada pelo país afora. Tem muito pouco de cultura popular hoje em dia. Tornou-se um avento muito caro e precisa ser revisto enquanto manifestação popular. São trios elétricos caríssimos, atrações milionárias e uma vocação para a politicagem de fazer vergonha.  No mais, não há como o Estado investir nas manifestações de todos os 223 municípios, acho que é injusto investir apenas em alguns. A Paraíba sofreu e ainda sofre horrores com a estiagem e acho um despropósito esquecermos a devastação causada pela seca, apenas porque é carnaval.  As políticas de cultura, cada vez mais, precisam dialogar com a realidade do povo porque é dessa realidade que nascem as manifestações populares e as melhores expressões da sua cultura.


Quanto ao investimento no carnaval, que eu lembre esse evento nunca esteve no calendário da Fundação Espaço Cultural. Estamos num ano eleitoral e devemos ter muitos cuidados para não incorrer em condutas vedadas inventando moda.

FR: Os investimentos no Carnaval Tradição e no Folia de Rua na capital paraibana serão em parceria com o Governo Municipal?

LS: Respondo com uma pergunta. Por que uma fundação estadual deve investir somente na capital? Essa é uma lógica que precisa ser transformada. E os outros municípios? Será possível que o interior do Estado deva permanecer excluído? Será que regiões riquíssimas do ponto de vista cultural, como o Cariri, o Brejo, O Sertão e as outras, devem ser mais uma vez esquecidas? Ou vamos ter a doce ilusão que o Estado, com tantos problemas regionais, com regiões absolutamente carentes, vai esquecer tudo porque em João Pessoa não tem seca, mas tem carnaval? A Conferência Estadual de Cultura deu um recado muito claro. 

Nenhum delegado de João Pessoa foi eleito. O interior quer atenção e o nosso desafio é traçar políticas regionalizadas. A Prefeitura da capital gastou mais de 500 mil apenas com duas atrações do Réveillon, apesar de não pagar pequenos cachês de grupos locais no Sabadinho Bom e nem as oficinas da Funjope. Uma banda ruim e desconhecida como a Sambô, levou a bagatela de R$ 320 mil. Tivemos neve artificial, um investimento caríssimo em nosso tórrido Verão, fogos musicais que custam o olho da cara. Estão queimando dinheiro público. Não creio, portanto, que o município esteja precisando de socorro do Estado para realizar seu carnaval.

Fonte: Blogger no CULTURA DE ALAGOA GRANDE