12 de mar. de 2013

68 municípios da PB não registraram assassinatos em 2012.


Quase um terço dos municípios paraibanos não registrou homicídios no ano passado, segundo dados repassados ontem pela Secretaria Estadual de Segurança e Defesa Social (Seds). São 68 cidades nessas condições, o que representa 30,4% do total. Em 28 delas, a situação é ainda mais pacata, pois não há ocorrências desde 2010. Por outro lado, apenas três municípios – João Pessoa, Campina Grande e Santa Rita – concentram 54% (832) dos 1.542 assassinatos de 2012.

Diferente dos grandes centros, Sossêgo, no Agreste paraibano, pode fazer jus ao nome que carrega. Segundo a Seds, houve apenas um registro em 2010. Desde então, mais nenhum. O prefeito da cidade, Carlos Antônio Alves da Silva (PSD), explica que muito dessa situação tem a ver com um trabalho preventivo feito através de uma rádio local, ouvida por boa parte dos seus cerca de 3 mil habitantes.

“A gente tem uma rádio onde aconselha o pessoal. A gente sabe que esses crimes estão mais relacionados à bebida, então, fazemos esse trabalho de conscientização. É muito difícil ter homicídio aqui. Acredito que teve um no Dia das Crianças (há mais de dois anos). De lá para cá, mais nada”, contou o prefeito.

Apesar da tranquilidade aparente, a situação em Sossêgo é relativa, porque, conforme aponta o prefeito Carlos Antônio, ainda acontecem roubos na cidade. “Tivemos um recentemente contra um posto de gasolina. Um rapaz de moto chegou, abordou o senhor e roubou cerca de R$ 400”, relatou.

Por outro lado, o problema está no fato de que a cidade, de acordo com o prefeito, nunca contou com um delegado próprio e não tem uma delegacia em funcionamento. “O delegado que a gente tem é de Barra de Santa Rosa, Cuité e Picuí. Mesmo assim, é muito difícil da gente encontrá-lo. Já tive contato com a Secretaria (Seds), fiz solicitação quando assumi, em 2009, mas nunca atenderam”, lamentou.

“Até de porta aberta se dorme”

Em Riachão do Bacamarte, município do Brejo paraibano com 4.264 habitantes, conforme dados do IBGE, a população dorme tranquila. Os moradores relataram que é comum as crianças brincarem nas ruas até às 22h, enquanto os adultos conversam nas calçadas. O último homicídio registrado na cidade aconteceu em 2011, quando um agricultor matou a própria irmã por conta de uma disputa de terras. Este ano, apenas um inquérito foi aberto na cidade, por embriaguez ao volante.

Conforme os dados de inquéritos policiais de Riachão, revelados pelo escrivão Humberto Maia, foram dois homicídios registrados entre 2009 e 2011, mas, ainda assim, envolvendo brigas familiares e disputas de terras.

Sem prédio para delegacia

Após contato com a reportagem, a delegada geral da Polícia Civil, Ivanisa Olímpio, reconheceu que Sossêgo não possui uma delegacia em funcionamento, tendo em vista que o prédio-sede está em péssimas condições. Entretanto, garantiu que iria solicitar urgentemente ao delegado responsável pela cidade que procurasse uma casa que pudesse ser alugada, para abrigar a delegacia municipal.

Ivanisa afirmou ainda que, assim como já está sendo feito em outros municípios, iria estabelecer contato com o prefeito, para verificar a possibilidade de cessão de um terreno municipal, para a construção do prédio definitivo. “Faremos isso em todas as sedes. Onde estiver em condições precárias, estaremos buscando parcerias com as prefeituras”.

Mapa: PB é 3º melhor

Dados do “Mapa da Violência 2013 – Mortes Matadas por Armas de Fogo”, divulgado na semana passada, já adiantavam que a situação na Paraíba é a terceira melhor entre os Estados do Nordeste, levando em consideração dados de 2010. Embora o Estado apresente a quinta maior taxa de homicídios no País por armas de fogo (32,8 mortes para cada 100 mil habitantes), 62 cidades (27,8%) não tiveram nenhum registro de assassinatos em 2010, ano utilizado como parâmetro na pesquisa. O percentual é o terceiro melhor entre os Estados nordestinos, ficando atrás apenas do Piauí (52,6%) e do Rio Grande do Norte (30,5%).

O mapa, organizado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), revelou ainda que a Paraíba também é o quinto Estado do País com o maior crescimento de homicídios causados por armas de fogo em uma década. Enquanto em 2000 foram 397 mortes, o número subiu para 1.234 em 2010, avanço de 210,8%. Entre as capitais, João Pessoa é a segunda com a maior taxa de assassinatos: 71,6.

Tranquilidade em Riachão

Para a aposentada Severina Maria da Conceição, 62, que mora no município há 40 anos, não há melhor lugar para se viver. “Eu fico aqui sentada na minha cadeira de balanço na frente de casa o dia todo. É sempre assim, gente andando na rua, crianças brincando. Uma maravilha”, afirmou. A estudante Soraya Barbosa, 12, garantiu que se reúne com a turma para jogar bola na frente da igreja, quase todos os dias. “Aqui não perigo pra gente não. Até de porta aberta se dorme. Todo dia a gente vem para cá jogar”.

O baixo índice de criminalidade é atestado também pela dona de casa, Joselita Maria dos Santos, 23. “Quando a gente sabe que aconteceu algum crime, até se espanta”, falou.

Cidade não tem delegado

Apesar de tranquila, Riachão do Bacamarte não tem delegado de Polícia Civil em tempo integral atuando no município. A cidade é guarnecida pela Delegacia de Ingá, distante 7,5 km, que conta com um delegado, um escrivão e dois agentes de investigação, e por um posto da Polícia Militar, com dois policiais por plantão. Os moradores também atribuem a boa segurança à ausência de grandes eventos na cidade. “Aqui não tem essas festas grandes, que atraem multidões. É uma cidade pacata. Praticamente todo mundo se conhece”, completou o funcionário público Diomedes Santos.

Fonte: Jornal da Paraíba