Sempre atento a tudo que pinta de novo no mundo da corrida, Rodolfo Lucena escreve hoje em seu blog sobre estudo publicado no último dia 10 pela revista alemã "Der Spiegel". Após examinar dez participantes da ultramaratona Transeuropeia, em 2009 - que correram 64 etapas em dias seguidos, cada uma delas de 70km em média, do sul da Itália ao Cabo Norte - médicos concluíram que o cérebro reduz após um desafio desses. Segundo eles, o esportista corre por tanto tempo que o cérebro perde água e diminui de tamanho, perdendo neurônios. Veja mais detalhes do estudo:
"Corredores de extremas distâncias consomem mais reservas do que eles imaginam, e seus cérebros ficam menores. Esse encolhimento espantoso foi descoberto pelos médicos Wolfgang Freund e Uwe Schütz, juntamente com outros colegas de Ulm, ao examinarem dez participantes da ultramaratona Transeuropeia de 2009. Os esportistas correram 64 etapas em dias seguidos, cada uma delas de 70 km em média, do sul da Itália ao Cabo Norte.
"Os cientistas usaram um aparelho móvel de ressonância nuclear magnética para mapear as consequências desse esforço físico na cabeça dos atletas. Resultado: o volume da massa cinzenta diminuiu continuamente; depois de 4.000 km, a perda foi em média de 6%.
"Os médicos atribuem o encolhimento da massa cerebral à imensa demanda de energia do corpo. Freund acha que, aparentemente, o tecido cerebral também é metabolizado: "Os corredores gastam reservas de gordura de todos os cantos."
"Para consolo dos esportistas, os neurônios não morrem, apenas encolhem. Oito meses depois da ultramaratona, os cérebros recuperaram seu tamanho original."
ULTRAMARATONISTAS DISCORDAM:
Ao ler sobre o estudo, Márcio Villar, conhecido por dobrar as mais difíceis das ultramaratonas, brincou: "Então, eu só tenho o tico e teco". Capaz de correr por dias seguidos, nas piores condições, ele não concorda com o estudo.
"Isso daí é igual ao café e o ovo. Num dia, um estudo aponta que faz bem. Num outro, que faz mal" comenta o ultramaratonista, explicando porque não concorda com a pesquisa alemã. "Para fazer uma ultramaratona, o cérebro precisa estar 100%. É preciso ficar atento a tudo que seu corpo esta te informando. Dependendo da corrida, o tempo para se revolver um problema pode ser menos de 20 segundos."
Militar e engenheiro civil, Claudio Brutus sempre fez atividades físicas de maneira muito intensa. Ele corre há 20 anos e nos últimos três passou a participar de ultramaratonas. A paixão pelas longas distância é tão grande que ele está organizando, neste domingo, a II Ultra Amigos (50km). Ele concorda que com Márcio Villar e diz que não ficou mais burro por conta das ultras:
"Não tive problemas em relação à concentração... Pelo contrário, o meu psicológico ficou mais forte. Hoje, tenho mais disposição para fazer as coisas. E não falo só por mim. Conheço diversos ultramaratonistas e não vi ninguém ficar debilitado por conta disso. Todos eles são bem centrados e levam muito bem a vida, a profissão e a família", diz Claudio.
Fonte: O Globo