8 de out. de 2012

Remédio contaminado causa surto de meningite nos EUA.


Um surto mortal de um tipo raro de meningite colocou os Estados Unidos em estado de alerta. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês), a doença vem se espalhando com velocidade, e até domingo, 91 pessoas tinham sido infectadas e sete morrido em nove estados americanos. A CDC informou ainda que os casos estão relacionados a um medicamento para dores musculares que estava contaminado com o fungo Aspergillus. O surto chamou a atenção para a reduzida regulação das empresas farmacêuticas de manipulação, como a que produziu a droga infectada: a New England Compounding Center Inc.

A empresa vendeu 17.676 frascos do esteroide acetato de metilprednisolona a 76 estabelecimentos em 23 estados de julho a setembro, segundo informações do Departamento de Saúde de Massachusetts, estado onde a empresa está localizada. O uso de injeções de esteroides para dores nas costas, como o caso dessa droga, disparou a partir da década de 1990. Em 2011, cerca de 2,5 milhões de pessoas tomaram as injeções, segundo dados da Sociedade Internacional de Intervenção na Coluna.

A meningite é uma inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal, geralmente causada por vírus ou bactérias. Os sintomas são fortes dores de cabeça, febre, náuseas, dificuldade de equilíbrio ou fala arrastada. O período de incubação da doença tem sido de uma a quatro semanas após as injeção do esteroide. Por isso, autoridades de saúde afirmaram que todos que fizeram uso da droga precisarão ser examinados e acompanhados. Comumente administrada com antibióticos, essa forma de meningite é resistente a esse tratamento. Segundo a CDC, ela não é contagiosa, mas especialistas acreditam que ainda haverá novos registros da doença.

- Tenho receio de que ainda vamos ver muitos outros casos dessa meningite espalhados pelo país - afirmou William Schaffner, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Nashville, ao "New York Times".

Empresa já estava sob investigação

Os nove estados onde a doença foi registrada são Flórida, Indiana, Maryland, Michigan, Minnesota, Carolina do Norte, Ohio, Tennessee e Virgínia. Até agora, o Tennessee, onde o surto foi inicialmente detectado, é o mais afetado, com mais de 30 casos e três mortes.

A New England informou ter suspendido a distribuição dos frascos, além de realizar o recall de três lotes da droga. De acordo com o Departamento de Saúde de Massachusetts, reclamações contra a empresa datam de 2002 e se referem à forma do processamento de suas drogas, o que resultou num acordo com agências de vigilância sanitária em 2006 para corrigir as deficiências. Em 2011, uma inspeção constatou que os problemas tinham sido resolvidos, mas em março, outra reclamação foi feita com relação à potência do produto usado em cirurgias nos olhos. A investigação está em andamento.

A epidemia levantou no país o debate sobre o controle de medicamentos. A agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), tem autoridade limitada nas operações em farmácias de manipulação, que são regulamentadas principalmente por conselhos estaduais, os quais são responsáveis por supervisionar as práticas de licenciamento e certificação de farmácias e farmacêuticos.

Produtos de manipulação não precisam da aprovação da FDA antes de serem vendidos, e a agência também não tem jurisdição sobre como as drogas são fabricadas ou etiquetadas. A FDA investiga casos de drogas adulteradas em apoio aos reguladores estaduais.

- Ela tem mais autoridade regulatória sobre uma fábrica de remédios na China do que numa farmácia de manipulação em Massachusetts - criticou Kevin Outterson, professor de Direito da Universidade de Boston, ao "New York Times".

O Globo