Abelardo da Hora: “Vou esculpir torturadores da ditadura militar vomitando mortos desaparecidos”.
Com o apoio de entidades defensoras dos direitos humanos, dentre as quais, a CUT, M..S.T. Pastoral da Terra, Grupo Tortura Nunca Mais, centros de direitos humanos do Ministério Público de Pernambuco, da prefeitura do Recife, e várias organizações sociais, realizou-se na sede dos Direitos Humanos do Ministério Público de Pernambuco, recentemente, na rua do Imperador, Recife, sob a presidência do procurador geral de justiça, Agnaldo Fenelon, e como secretário o sociólogo Edival Cajá, seminário com o fim de comemorar o transcurso de um ano da instalação do Comitê pela Memória, Verdade e Justiça.
Diversos oradores usaram da palavra representando vários órgãos e entidades, exaltando o trabalho que vem realizando o Ministério Público de Pernambuco sob a liderança de um devotado defensor dos direitos humanos, o procurador de Justiça Agnaldo Fenelon.Contundentes discursos foram proferidos por nomes emblemáticos da recente história política do país; dentre os quais o escultor Abelardo da Hora e o escritor e ex-deputado constituinte Agassiz Almeida. Ambos opuseram forte resistência às atrocidades praticadas pela Ditadura Militar (1964-1981) e até o momento abafadas.
Acentuou Agassiz Almeida na sua fala: Os dias se sucedem, os anos correm, adversidades são enfrentadas por aqueles que pelejam em defesa dos direitos humanos, e pelo resgate da memória histórica de nosso país, contra o qual um corporativismo militar caolho se antepõe por todas as formas, afrontando com isto a consciência livre da nação.
Basta! Uma nação democrática não pode conviver com a impunidade cínica dos torturadores e genocidas da Ditadura Militar.
Foge de um povo livre integrado no contexto das democracias mundiais assistir ao desfile do cinismo daqueles que amparados à sombra do Estado perpetraram crimes de lesa-humanidade.
Basta! Enquanto o país é elevado à 6° potência na escala da economia mundial, quedamo-nos apequenados como uma republiqueta.
Que pacto se armou no qual se gestou a lei capenga da anistia de 1979, emanada de um congresso castrado, engendrado pelo próprio regime militar para favorecer os torturadores.
Ao olharmos para trás a recente história, assistimos em vários países criminosos de lesa humanidade serem arrastados às barras da Justiça e condenados, no entanto uma sensação de vergonha e de derrota nos domina. O corporativismo elitista pode nos derrotar, mas jamais nos vencerá. Temos a história ao nosso lado.
Onde estão e quem são hoje os Mussolini, os Videla, os Pinochet, os Medici? Cães danados da História Universal.
Abelardo da Hora, considerado um dos maiores escultores do Brasil, em verberações, condenou a ditadura militar: Eu não sei descrever em palavras o que de atrocidades a ditadura militar do Brasil praticou. È inominável os crimes monstruosos que os agentes do Estado Militar cometeram.
Arrastaram-me pelos piores calabouços dos porões da ditadura militar, aqui, no Recife, por onde passaram Miguel Arraes, Gregório Bezerra, Francisco Julião, Paulo Cavalcanti, Agassiz Almeida, Clodomir Morais, Edival Cajá, Manoel Lisboa e centenas de lideranças estudantis e operárias, todas condenadas pelo crime de olhar um Brasil livre e independente.
Nesse terrorismo de estado os criminosos da Ditadura Militar cometeram um crime monstruoso desconhecido nos anais da história: Prenderam, torturaram, assassinaram e desapareceram com os corpos dos mortos.
Os criminosos da ditadura dizem que eu morri; eles é que morreram para a História. Vou esculpir torturadores da ditadura militar de braços levantados vomitando mortos desaparecidos.