11 de jul. de 2011

Gangues aterrorizam bairros de JP com toque de recolher e pedágio.


Andar por determinados bairros e comunidades de João Pessoa é quase um ato de heroísmo. Apesar de não haver dados oficiais sobre gangues, os policiais que estão nas ruas afirmam que a situação precisa ser contornada o mais rápido possível. Fingir que o problema não existe é deixar ainda mais vulnerável a vida de cidadãos que, por falta de opção, são obrigados a conviver diariamente em áreas onde o medo predomina e os bandidos criam a própria lei.
Em relação ao poderio de fogo, os bandidos estão lutando de ‘igual para igual’ com a polícia, conforme declaração da própria polícia. São locais tomados pelos bandidos, onde até os policiais temem ir, pois sempre são recebidos ‘a bala’.
Pelo menos duas das gangues que atuam em João Pessoa têm ramificações por vários bairros, chegando, inclusive a municípios como Cabedelo e Bayeux. Os integrantes da ‘Al Qaeda’ e ‘Estados Unidos’, desafiam a Polícia a qualquer hora do dia, em qualquer lugar. Em alguns locais, a situação parece ter saído do controle onde a Polícia é acionada, semanalmente, de 30 a 40 vezes.
No bairro dos Novaes, na zona oeste da cidade, os moradores vivem apreensivos. Às 18h, na comunidade Bola na Rede poucos comerciantes se arriscam a manter o estabelecimento aberto. “Deus me livre, minha filha... eu não tenho ‘peito de aço’”, disse um homem que não quis se identificar. Ele já viu muitas vidas sendo tiradas na porta de casa e do mercadinho. Mas, nunca teve coragem de falar nada. “Eu tenho família, né? Não sou doido de me meter nessas confusões”, acrescentou.
Na última semana do mês de junho, não passava das 9h quando gangues rivais que disputam ponto de venda de drogas na Bola na Rede iniciaram um intenso tiroteio no meio da rua. As facções rivais ‘Al-Qaeda’ e ‘Estados Unidos’ desprezaram as leis e ‘montaram’ um palco de guerra, deixando os moradores assustados e revoltados com a situação. O comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar (1° BPM), coronel Jefferson Pereira da Costa, admitiu que tiroteios na comunidade acontecem praticamente todos os dias.
“Para você ter ideia do problema, até nós policiais sempre que chegamos lá na Bola na Rede somos recebidos a bala”, afirmou. Segundo ele, o poderio de fogo dos bandidos é tão (ou mais) forte quanto o da polícia. “Quase não há diferença. Os bandidos estão muito bem armados, mas a polícia está monitorando todos esses casos e em breve a população poderá comemorar”, explicou.
Apesar de admitir a existência, o coronel informou que não há como provar que determinado criminoso pertence a determinada gangue. Segundo o comandante, muitos se intitulam como membos de gangues para ficar na moda. “Tenha certeza que a maioria, ou a totalidade, não sabe o significado das siglas que escolheram”, afirmou. De acordo com o coronel, a disputa das gangues é pelo tráfico de drogas, em qualquer lugar que elas atuem. “A Polícia Militar tem feito várias operações com o intuito de combater a criminalidade nessas áreas”, disse.
O coronel José Rodrigues Souza Neto, comandante do 5° Batalhão da Polícia Militar, também admitiu a atuação de gangues na capital, mas disse não ter como provar a existência. “É uma situação bem complicada, porque nós sabemos que tem, mas é muito difícil provar. Sabemos que são duas grandes gangues que se ramificaram em João Pessoa, mas que não são independentes entre si”, disse. Ele contou que já foram encontrados cadernos com ‘estatutos’ dessas gangues durante operações policiais.
Toque de recolher
A ação de gangues em João Pessoa também é responsável pelo ‘toque de recolher’ em alguns bairros da cidade, como Mandacaru, Novaes e Alto do Mateus. De acordo com o conselheiro Sérgio Lucena, do Conselho Tutelar Norte, em Mandacaru, os moradores sabem que em determinada hora, têm de entrar em casa sob ordens de bandidos. “Apesar de não ser oficializado, isso existe”, frisou. O comandante do 1° Batalhão da Polícia Militar (1° BPM), coronel Jefferson Pereira Costa também confirmou o toque de recolher em bairros da capital.
“No mês de março o problema foi detectado nos Novaes, mas depois disso, não tivemos mais registros de ocorrências do tipo”, afirmou. Segundo o coronel, a polícia já recebeu inúmeras queixas de moradores que reclamavam que estavam sendo até expulsos de suas casas. Moradores chegaram a falar em cobrança de pedágio, mas a polícia não confirma a denúncia. “Até agora não recebemos denúncias sobre isso, no entanto, não estou dizendo que isso não existe”, afirmou o comandante.
“Infelizmente, não há como negar que em alguns locais da capital a situação destoa da normalidade. Existem grupos que se apossam de ruas como se fossem suas, mudando a rotina da população e desafiando a polícia”, afirmou o coronel Jefferson. Só quem vive na comunidade, consegue traduzir o sofrimento em palavras. “Desde criança vivo nesse inferno, mas de uns anos para cá está bem pior. Quem manda nos Novaes são os bandidos”, lamentou uma dona de casa, que aceitou dar entrevista sem revelar o nome.
No bairro de Mandacaru, até o início deste ano, o toque de recolher também era realidade na localidade. Os moradores, assustados e sem opção, cediam à pressão dos bandidos e fechavam as portas de casa na hora determinada, sob pena de pagar com a vida. O coronel lembra que a ‘queda de braço’ entre as gangues é pelo domínio de pontos de venda de drogas. “É essa a principal causa de rivalidade”.

Dados do Portal Paraíba 1